Imaginário em (t)riste
Imagino a Terra sem a presença humana:
imensidão paradisíaca, com verde e flores;
campinas vazias, a silêncios, sem as dores,
e o mar, inda mais sereno, em água plana.
Idealizo o céu, tão grandioso, em azul anil,
e a tempestade violenta. Entretanto, isenta
da paixão. Pois que não é o que a alimenta.
Nem mesmo ela seria má, vingadora ou vil.
Imagino a Terra sem as palavras. Que digo?!...
Não haveriam palavras com que dizer a ideia.
Me pergunto se sem mim haveria a pangeia
e toda a transformação de cunho evolutivo?...
O que seria da Terra sem a poesia que crio?
Paradoxo: não existiriam poesias num falto;
nem a ambiguidade, o imprevisível, o salto
com que a linguagem extravasa, como rio.
Penso no vento a pentear o verde, arbustos
num soar sereníssimo, solitário, angustiante...
Nada a ver com o sopro que na vida se plante
no respiro audaz de todos os homens justos.
Mas, ...
Onde iria assim com esse imaginário triste?...
Preferível constatar que ora a Terra é humana,
no instante em que a refiro, e não me engana
a percepção com que a minha alma insiste.
Rogério Mota, 2/6/2017
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