domingo, 11 de junho de 2017

Cada um de nós


Cada um de nós

Cada um de nós, a parte e intimamente,
reconhece-se espírito em trânsito na Terra.
Intui que o corpo serve-lhe de veste, sente
que o que aqui se vive um objetivo encerra.

Cada um de nós, a parte e solitariamente,
pensa na razão das aflições e do seu sentido.
Abraça-se a uma religião, um ideal, contente:
a explicação cabal sobre o que se há vivido.

Cada um de nós, a parte, seja ateu ou crente,
aceita que se nasce aqui, e alhures se nasce.
Que poderia ter nascido na Ásia, depreende
que as suas ideias difeririam assim de face.

Cada um de nós, a parte e individualmente,
respira em torno das ideias as quais alcança.
E vive de acordo com elas, presuntivamente,
na medida em que às expectativas se lança.

Cada um de nós, a parte e singularmente,
pode muito bem ser tido por um Universo;
projeto extraordinário expandindo à frente,
espírito incomparável, num corpo, imerso.

Rogério Mota, 11/6/2017


sábado, 10 de junho de 2017

Meditando, em versos, sobre a língua portuguesa


Meditando, em versos,
sobre a língua portuguesa 

Lembro daquele ocitano menestrel
passeando pelas campinas da Ibéria.
Cultivava a nossa língua, o nosso mel
em artística missão, por demais séria.

Lembro do navegante português,
em arriba no caralho, com a luneta.
Ideava em nossa língua, por sua vez,
meditações nas areia da ampulheta.

Lembro do índio, nativo brasileiro
ao se ver diante da lusitana adaga.
A nossa língua veio sobre o cheiro
do sangue índio, à morte e praga.

Lembro do cativo da africana terra,
sob a sombra portuguesa, em peso.
Atou-se ele à língua que o encerra,
corrente a aperto que o deixa teso.

Língua portuguesa é rolo que rola.
Não presume que seja má ou boa.
Ela se estende sob a lei que assola,
e que se ergue, aqui e em Lisboa.

Rogério Mota, 10/6/2017

Sombras dos medos


Nós, os filhos da D. Zilda e do Seu Tião


Nós, os filhos 
da D. Zilda e do Seu Tião

Dos filhos, Carlinho é o primogênito,
seguido do Ita, de Wilson o apelido;
depois, eis a Lena, menina no circuito,
na certidão Marilene, o que se há lido.

Passado um intervalo em nosso lar,
nasce o Sérgio, que tem Luiz antes;
digo: é Luiz Sérgio, 2 nomes, em par;
dos filhos, eis o nosso mais caçoante.

A intervalo curto eu vim, o Rogério,
chará dum primo querido de Minas.
Mais um filho pra não dar refrigério,
dada a trupe acrescida, uns traquinas.

Depois, nasceu a Mariza, a espoleta;
caçula menina, brabeza em pessoa.
Entre nós aconteciam urros à letra,
altercação, que hoje já não ressoa.

Logo enfim, veio a rapa do tacho:
o caçula, homônimo do nosso pai.
Sebastião Mota Júnior, logo abaixo,
da escada de filhos, que na foto sai.

Rogério Mota, 10/6/2017

sexta-feira, 2 de junho de 2017

Imaginário em (t)riste


Imaginário em (t)riste

Imagino a Terra sem a presença humana:
imensidão paradisíaca, com verde e flores;
campinas vazias, a silêncios, sem as dores,
e o mar, inda mais sereno, em água plana.

Idealizo o céu, tão grandioso, em azul anil,
e a tempestade violenta. Entretanto, isenta
da paixão. Pois que não é o que a alimenta.
Nem mesmo ela seria , vingadora ou vil

Imagino a Terra sem as palavras. Que digo?!...
Não haveriam palavras com que dizer a ideia.
Me pergunto se sem mim haveria a pangeia
e toda a transformação de cunho evolutivo?...

O que seria da Terra sem a poesia que crio?
Paradoxo: não existiriam poesias num falto;
nem a ambiguidade, o imprevisível, o salto
com que a linguagem extravasa, como rio.

Penso no vento a pentear o verde, arbustos
num soar sereníssimo, solitário, angustiante...
Nada a ver com o sopro que na vida se plante
no respiro audaz de todos os homens justos.

Mas, ...

Onde iria assim com esse imaginário triste?...
Preferível constatar que ora a Terra é humana,
no instante em que a refiro, e não me engana
a percepção com que a minha alma insiste.

Rogério Mota, 2/6/2017



Materialismo


Materialismo

Satírica indiferença ao termo alma.
Escusado mencionar o desrespeito
às religiosas conjecturas e o preito
a um Deus Salvador – Lei e palma.

Fria a inteligência com que lida,
hábil na ornamentação da ideia
ao definir os termos da epopeia
do que entende que seja a vida.

Então, morre... e duvida do nada...
Poço escuro, interminável, a zunir.
A mente enrijece. Colapso a ferir.
Concepções em franca derrocada.

Rogério Mota, 2/6/2017

Zelo de uma vida inteira


Zelo de 
uma vida inteira

Intricada a questão da sobrevivência;
por extensão, a da decantada morte.
Temos tão somente investido na sorte
do minuto imediato a rápida cadência.

A morte tem sido assunto proibido,
indesejável, inconveniente, impróprio.
"Tema que não nos diz respeito", óbvio,
cheia das tristezas que traz consigo.

Expulsamo-la assim, simplesmente.
Escorraçamo-la desapiedadamente
com o mote do concreto ora vivível
da materialidade, eleita a mais crível.

Mas, ...

Não tem jeito... Ei-la sorrateira –
cedo ou tarde ela prima no cenário,
em visita pessoal, qualquer horário,
a resumir o zelo de uma vida inteira.

Rogério Mota, 2/6/2017


Espiritismo