1. O Zé
Dá do tanto que pode,
mostra do tanto que é.
Vida em que se sacode,
um coco oco de coité.
Saca do tanto que tem,
paga o tanto que pode.
Pode o tanto a que vem,
moedas longe do pote.
Pagode, cachaça lá tem,
cigarro e conversa fiada.
Manhã a ronco no trem,
sono sob a alheia piada.
Zé é o nome que tem,
labora de alma rasgada.
Alcunha de Zé-Ninguém,
tropeços na madrugada.
2. A fé do Zé
Crê num tanto que lê,
digere só o que pode.
Fé ao cuidado de que
a dor não o incomode.
Ouve o tanto que vem,
coteja o tanto que pode.
Vê problemas aquém,
pensamento à la mode.
Muda o tanto que pode,
o mínimo tanto por fora.
Mal que a outros engode,
projeta o juízo embora.
A fé no tanto que pode,
não pode o tanto que diz.
Fiel que a tal se acomode,
apenas finge em ser feliz.
3. O Zé no Além
Morre o Zé, de todo,
e mostra o tanto que é.
A vida abaixou o toldo,
na prova daquela fé.
Nu ele se viu de todo,
atolado num visco breu.
Não sabia, ah! Que tolo",
um inferno todinho seu.
Mas o Zé é filho de Deus,
mesmo metido a esperto.
O Pai cuida dos filhos seus,
à Lei do errado e do certo.
A fé no tanto que pode,
poderá o tanto que diz,
tão logo nosso Zé acorde
para o labor de ser feliz.
Rogério Mota, 5/3/2017
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