domingo, 5 de março de 2017

Zé-Ninguém em Três Atos


1. O Zé

Dá do tanto que pode,
mostra do tanto que é.
Vida em que se sacode,
um coco oco de coité.

Saca do tanto que tem,
paga o tanto que pode.
Pode o tanto a que vem,
moedas longe do pote.

Pagode, cachaça lá tem,
cigarro e conversa fiada.
Manhã a ronco no trem,
sono sob a alheia piada.

Zé é o nome que tem,
labora de alma rasgada.
Alcunha de Zé-Ninguém,
tropeços na madrugada.


2. A fé do Zé

Crê num tanto que lê,
digere só o que pode.
Fé ao cuidado de que
a dor não o incomode.

Ouve o tanto que vem,
coteja o tanto que pode.
Vê problemas aquém,
pensamento à la mode.

Muda o tanto que pode,
o mínimo tanto por fora.
Mal que a outros engode,
projeta o juízo embora.

A fé no tanto que pode,
não pode o tanto que diz.
Fiel que a tal se acomode,
apenas finge em ser feliz.


3. O Zé no Além

Morre o Zé, de todo,
e mostra o tanto que é.
A vida abaixou o toldo,
na prova daquela fé.

Nu ele se viu de todo,
atolado num visco breu.
Não sabia, ah! Que tolo",
um inferno todinho seu.

Mas o Zé é filho de Deus,
mesmo metido a esperto.
O Pai cuida dos filhos seus,
à Lei do errado e do certo.

A fé no tanto que pode,
poderá o tanto que diz,
tão logo nosso Zé acorde
para o labor de ser feliz.

Rogério Mota, 5/3/2017

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